Havia um pequeno ninho de vespas no meio dos meus livros. Uma vez, eu queria alcançar a Crítica da Razão Pura que estava mesmo no meio da prateleira, e saiu uma vespa do ninho. Deu-me uma seca sobre Kant de tal modo entediante, que eu tive de esfregar a testa com vinagre e meter-me na cama. Consta que, durante o delírio, eu reclamava ser o Sujeito Transcendental. Melhorei rapidamente, mas, infelizmente, a rapidez era só um atributo da minha intuição pura a priori.
A picada permaneceu no meio da minha testa durante uns dias. Depoi vinguei-me das vespas e li-lhes um opúsculo cosmológico de Vespácio Ferrão, que dizia, entre outras coisas:
"Enquanto que os livros abrigam insectos rastejantes como os bichos da madeira, o infinito aloja os enxames galácticos mais prósperos e abundantes."
E eu acrescentei: sejam de vespas ou estrelas.
Convencidas, e com razão, da finitude do meu quarto, voaram todas pela janela em direcção ao infinito e deixaram para trás o ninho cheio de larvas que eu tive de limpar e foi um nojo.
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