quinta-feira, 16 de abril de 2015

que os chapéus lhe fugissem

O Matias tem uma colecção de chapéus e um sítio estranho para os guardar: a folhagem densa de uma Magnólia Grandiflora que fica na rua Gonçalo Sampaio. Andava sempre preocupado, por medo de que os chapéus lhe fugissem com a ventania. Todos os dias este senhor ia almoçar à Marisqueira mesmo ali em frente. Quando, numa sexta-feira de mau tempo, o empregado de mesa disse: "Este robalo é de se lhe tirar o chapéu", o Matias saíu esbaforido do restaurante e foi à procura do robalo no meio da tempestade. Quando viu um dos seus chapéus a voar sem robalo sobre os jazigos do cemitério de Agramonte, diz-se que rogou pragas tão blasfemas que o senhor padre que andava por lá o afastou com pontapés e água benta. Consta que a colecção do Matias reapareceu, intacta, pendurada na magnólia e, por incrível que pareça, não foi avistado um único peixe a repor os seus chapéus. Eu não teria acreditado nesta história se, quando fui àquele restaurante, não me tivessem servido um robalo - de se lhe tirar o chapéu.