sexta-feira, 17 de julho de 2015

comeu um disco duro

Estava eu a vir da casa do meu pai, quando vi, à porta do carpinteiro, um simplório sentado num degrau a desfazer um disco rígido à martelada. Decidi abordá-lo cautelosamente.
- Desculpe. Tem alguma coisa contra discos duros?
- Sim. São duros.
- Sabe que há maneiras mais práticas de destruir informação, não sabe?
- Sim. Comendo-a.
Pensei imediatamente que o homem era burro ou tinha um parafuso a menos.
- O senhor já comeu algum dispositivo de armazenamento?
- Algum dis... quê?
- Se já comeu um disco duro, por exemplo.
- Comi bolachas velhas.
Eu estava espantada com a estupidez do homem.
- Ah. E conseguiu destruir a informação da bolacha?
- Sim.
- Como, então?
- A amílase salivar hidroliza o amido para alfa-dextrina - explicou - que é digerida por glico-amílase para maltose e maltotriose. Estes, com os dissacarídeos também, são hidrolizados por enzimas - maltase, isomaltase, sucrase e lactase - em monossacarídeos... Pode considerar que a destruição de informação consiste na sua decomposição em partes avulsas. Logo, a digestão é um processo destruidor.
De repente senti que o eixo da estupidez se inverteu, mas continuei a conversa.
- Então o senhor está a digerir o disco duro com o martelo?
- Isso é uma falácia de afirmação do consequente. Nem todo o processo destruidor é digestivo.
Então eu concluí: o eixo da estupidez inverteu-se mesmo.
- Então por que está a dar pancada no disco duro?
- Pensava que já tinha explicado. Tenho uma coisa contra discos duros.
- Que coisa? - perguntei, com medo da resposta.
- Um martelo - respondeu, sorrindo de condescendência.