segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Da elevação dos nabos

Foi negada ao senhor Paulo Vasconcelos a possibilidade de plantar nabos nas zonas do prédio definidas como comuns, como é o caso do canteiro do átrio da entrada. Com o argumento de que o elevador não tem uma localização definida (porque sobe e desce), nem comum (porque só serve um andar de cada vez), o senhor Vasconcelos decidiu plantar os seus nabos no chão do elevador. Para grande surpresa dos condóminos, quando os nabos começaram a crescer, foram disputados por outro senhor, o professor africano Bonga-Ponga, que faz adivinhação com conchas e vende amuletos contra o mau-olhado e a impotência. Ele declarava que os nabos eram seus porque param no terceiro andar. O professor Santos Bizarro, doutor em mecânica quântica, concluiu que não é possível declarar a quem pertencem os nabos, porque a posição e a velocidade não podem ser apreendidos em simultâneo e dependem do andar do sujeito observador. Quando mudaram a equipa de inspecção da Efacec para a Cosmos Society & Engineering, os nabos proliferaram para todo o prédio, numa contaminação epidémica que se diz esta na origem da elevação dos nabos ao estatuto de condóminos, entre os quais está o senhor Vasconcelos. Este declara estar envolvido num paradoxo temporal sem o qual não poderia existir. O senhor Vasconcelos só não percebeu ainda que ele próprio não existe, pois nunca conseguiu fazer medrar nabos no chão do elevador.