quinta-feira, 21 de junho de 2012

mesmo o fungo filosofal se propaga por esporos

Dizem que é por causa de um fungo das linhas, que os telefones da Faculdade de Letras começaram a avariar. O dito fungo começou a disseminar-se a partir do Departamento de Filosofia. Há quem declarasse que era causado pela humidade dos livros, mas todos sabem que mesmo o fungo filosofal se propaga por esporos. Então decidiram abrir o pavimento do Gabinete do Departamento, onde se veio a encontrar um esqueleto de coruja. De acordo com o médico legista, a coruja foi morta com um golpe de livro. Há quem pense que o fungo das linhas tinha origem na coruja, mas os cépticos insistiam que a causalidade não era uma propriedade ôntica mas uma atribuição mental por inferência indutiva, e que, portanto, não aderira ao fungo filosofal nenhuma causa determinante, de modo que esse bolor imprestável era livre, responsável e imputável. O que ele fazia às linhas telefónicas não era menos estranho: as vozes das pessoas saíam com o som de balidos prolongados. Os técnicos disseram que as anomalias da linha podiam ser resolvidas com a emissão de uma frequência antimicótica. O problema desta solução é que fez desaparecer os textos de vinte e seis livros, dissertações, jornais e revistas, que não puderam ser recuperados. Os telefones, porém, não tornaram a balir.

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