sábado, 28 de dezembro de 2013

nuvens de importância

- Não, não! Nada disso! - Insistia o senhor Casimiro, enquanto fumava borboletas. - Isto - declarava, puxando do cachimbo - não é um cachimbo!
Uma rapariga interrogou-o finalmente, cruzando os braços:
- Então, perdoe-me, mas... o que é? O que é isso?
Afectando ares e nuvens de importância, o senhor Casimiro explicou:
- Isto... isto é um quadro. Uma obra prima de um pintor surrealista, só o nome do artista me escapa agora...
- Magritte? - inquiri, sem saber no que me estava a meter.
Satisfeito e convencido de que eu acreditava que ele estava a fumar uma pintura de Magritte, o senhor Casimiro começou a dizer a toda a gente que eu provara que ele tinha razão e que «até tinha adivinhado o nome do autor da pintura».
Uma semana depois, o senhor Casimiro foi constituído suspeito por causa do incêndio do museu, no qual foram consumidas pelas chamas quatro obras-primas. Interrogaram-me a respeito das borboletas que eu tinha em casa, ao que eu respondi:
- Tenho, pois, mas nunca as fumei. Aliás... - hesitei - não são borboletas. São papillons, umas folhinhas de uma droga, papilio sativa, que se atam à volta do pescoço para fazer laçarotes pomposos.
Os polícias abalaram, confusos, enquanto um deles sussurrava audivelmente para o outro:
- Eu sei que ele é doido, mas não reparaste, no dia do incêndio, que cheirava a borboleta?

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