Desde que mudei a lâmpada do frigorífico, que vejo auroras boreais perto da prateleira de cima onde estão os molhos. Eu acho que a radiação saiu do congelador e infiltrou-se nas regiões mais a sul. O campo electromagnético criado pelo ímans da porta do frigorífico afasta-se quando a abro, e vejo brilhar umas luzes verdes ao lado do ketchup. Contra avisos em contrário, eu decidi colocar todas as minhas bananas no frigorífico, por uma razão muito singular: queria mesmo saber se as baratas alemãs sobrevivem à radiação-banana (ou radiação gama) e ao Inverno Nuclear. Em consequência da minha experiência, a geração seguinte de baratas era mutante e os molhos ficaram todos radioactivos. Descobri uma barata ucraniana que organizou uma revolução, mas, pouco depois, as baratas israelitas deram sete voltas ao frigorífico, puxaram das cornetas e ele desabou. Mais tarde percebi que tiveram o auxílio de um míssil balístico Jericho III, que aumentou tanto os níveis de radioactividade da minha cozinha, que eu passei a ver as auroras boreais na sala. A única coisa que explica que eu tenha sobrevivido à radiação é a minha fantasia de chumbo do Gregor Samsa, que eu conservo desde a minha primeira leitura de Kafka.
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